Igreja na América Latina propõe olhar pastoral sobre inteligência artificial
Novo documento do CELAM discute os impactos sociais, éticos e espirituais da IA à luz da fé cristã e da realidade latino-americana

Diante dos profundos desafios éticos, sociais e espirituais impostos pelas novas tecnologias, especialmente pela inteligência artificial (IA), o Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (CELAM) publicou o documento “La Inteligencia Artificial: Una mirada pastoral desde América Latina y el Caribe”. A proposta, fruto de uma elaboração interdisciplinar entre especialistas de diferentes países e áreas do saber, oferece uma reflexão pastoral e crítica sobre o papel da Igreja neste novo cenário tecnológico.
O subsídio foi desenvolvido entre 2024 e 2025 em encontros presenciais no México e na Colômbia, além de reuniões virtuais, sob a coordenação do Centro de Gestão do Conhecimento do CELAM. O grupo de elaboração contou com representantes de várias nações do continente, inclusive do Brasil — entre eles, Dom Edson Oriolo (diocese de Leopoldina – MG) e o professor Moisés Sbardelotto (PUC Minas e CNBB). O material nasceu em resposta à 39ª Assembleia Geral do CELAM e visa encorajar a Igreja a exercer um discernimento pastoral multidimensional sobre as consequências da IA em contextos concretos como a comunicação, a economia, o trabalho, a educação e a espiritualidade.
O Papa Francisco foi pioneiro ao abordar, em diversos documentos, as implicações da IA para a dignidade humana. Seu sucessor, o Papa Leão XIV, também destacou a importância do debate. Inspirado em Leão XIII, autor da emblemática encíclica Rerum novarum, o atual Papa afirmou que a missão da Igreja inclui oferecer sua doutrina social como referência frente à nova revolução tecnológica em curso, marcada pela inteligência artificial e suas consequências imprevisíveis para o trabalho, a justiça social e os direitos humanos.
Na apresentação do texto, Dom Lizardo Estrada Herrera, secretário geral do CELAM, lembra que a IA já molda muitos aspectos da vida cotidiana — da saúde à política. Segundo ele, é urgente que a Igreja mantenha um olhar crítico, lúcido e comprometido, capaz de enfrentar tanto os riscos de marginalização gerados pela tecnologia quanto suas potencialidades em favor da dignidade humana e do bem comum.
O documento está dividido em cinco capítulos. O primeiro esclarece os conceitos fundamentais sobre IA, como a diferença entre inteligência artificial fraca e forte. O segundo capítulo apresenta a evolução da IA ao longo da história, das suas raízes míticas aos avanços contemporâneos. O terceiro mergulha em uma análise ética e teológica sobre o uso da IA, à luz da doutrina cristã, com ênfase na dignidade da pessoa humana e no papel cocriador do ser humano.
O quarto capítulo analisa as aplicações práticas da IA em diferentes esferas da vida: economia, política, direitos humanos, ecologia, saúde, comunicação, trabalho e educação. Por fim, o quinto capítulo propõe recomendações pastorais concretas, como forma de preparar o episcopado e as comunidades locais para uma presença evangelizadora neste campo de fronteira, com espírito crítico, mas também esperançoso.
O texto do CELAM reafirma a importância da inserção da Igreja nesse debate, insistindo que a tecnologia jamais deve ser neutra e que a inteligência artificial precisa servir à vida e não ao contrário. Em tempos de rápidas transformações, essa reflexão oferece um valioso instrumento para que a missão pastoral se mantenha atenta, profética e dialogante.
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Com informações de CNBB